Cajucultura, no Ceará – Maior produtor nacional
Foto: Revista Sebrae Agronegócios |
Produtores do ceará recebem orientações técnicas sobre o processamento da castanha de caju |
05/03/2008 - Rosto curtido pelo sol nordestino, a agricultora Rita Maria guarda poucas recordações agradáveis de seus 51 anos de vida. Uma das maiores surgiu há pouco tempo, quando deixou o extrativismo de castanha de caju para se tornar uma produtora na mini-fábrica instalada no município de Tururu, na comunidade Cemoaba. Ela fala com orgulho sobre o espírito empreendedor e solidário presente no dia-a-dia da unidade. “Todos os que trabalham na fábrica são amigos, vizinhos ou da família mesmo. Dois dos meus sete filhos trabalham comigo. Isso facilita muito”, diz uma agora satisfeita dona Rita.
A Associação dos Cajucultores de Cemoaba é uma das dez mini-fábricas que fazem parte da Copacaju, cooperativa central que atende 352 pessoas diretamente, e mais de três mil, indiretamente. “Depois da criação da cooperativa houve um incremento de 25% na renda média desses produtores rurais, fundamentado principalmente na cultura da cooperação através da economia solidária”, afirma Antônio Vieira, gestor local do Projeto Mini-fábricas de Castanha de Caju pelo Sebrae/CE.
No Ceará, maior produtor de castanhas de caju no Brasil, o projeto atende cerca de três mil pessoas diretamente, e outras quatro mil de forma indireta. São agricultores de Barreira, Pacajus, Icapuí, Fortim, Tururu, Granja, Aracati e Ocara. No estado há também uma unidade central onde a amêndoa é armazenada, embalada a vácuo e comercializada. Nos últimos quatro anos, os investimentos superaram os R$ 3,5 milhões. Segundo Vieira, “Antes os produtores não tinham ocupação rentável. Agora o caju é a principal fonte de renda deles, que se preparam para avançar rumo a outros subprodutos, como cajuína, doce e polpa para sucos”, diz.
A história do beneficiamento da castanha de caju no Ceará começa em 2000, quando dez municípios com potencialidade para a cajucultura, e com baixo Índice de Desenvolvimento Humano – IDH, despertaram para o negócio. Até então, não possuíam logística nem escala de produção suficiente para viabilizar o beneficiamento nas próprias comunidades locais. Tratava-se de uma atividade agrícola sazonal, ocorrida apenas entre os meses de setembro e dezembro de cada ano.
Mesmo assim, cada uma dessas comunidades já produzia, anualmente, pelo menos 300 toneladas de castanha de caju in natura, dando-lhes a convicção de que havia ali um grande potencial econômico. Assim, começaram a discutir estratégias para otimizar essa produção. A saída era clara: beneficiar, elas próprias, as suas castanhas de caju, utilizando a mão-de-obra local.
Do sonho à realidade
Foto: Revista Sebrae Agronegócios |
Em Aracati, produtores mostram, satisfeitos, o resultado de seu trabalho na mini-fábrica local |
O que a princípio poderia parecer um sonho, logo começou a se transformar em realidade. Um diagnóstico setorial em todo o Ceará identificou 148 mini-fábricas de beneficiamento do produto já instaladas, mas sem funcionamento por diversos motivos, como falta de capital de giro e custeio, deficiências técnicas, inexperiência em manufatura, gestão e mercado, até ausência total de lideranças com conhecimento e afinidade com a cultura da cooperação. “Apenas seis mini-fábricas funcionavam precariamente, e somente no período da safra”, lembra Vieira.
Nesse mesmo período, outras comunidades com igual potencial surgiram, e as instituições envolvidas acataram as respectivas demandas, desde que as condições estabelecidas para assegurar o sucesso fossem aceitas: compromisso com o segmento social formado por jovens e mulheres; participação no processo intensivo de capacitação, focado na cultura da cooperação, gestão e finanças; boas práticas de fabricação, empreendedorismo e mercado.
Como resultado dessa união nasceu a idéia de revitalizar e implantar minifábricas de beneficiamento de castanha de caju no Ceará, amparadas com os suportes gerencial, técnico, financeiro e mercadológico, a partir de um plano de negócios, passando pela definição dos papéis institucionais e pela escolha de seus respectivos gestores estaduais.
Capacitação para o Mercado
O Sebrae ficou com a responsabilidade de capacitar as comunidades em áreas como gestão, empreendedorismo e práticas da cultura de cooperação, além de desenvolver e implantar um modelo de gestão adequado, moderno e dinâmico que garantisse a funcionalidade das mini-fábricas. Para isso, montou uma estrutura operacional e contou com o trabalho de oito consultores contratados exclusivamente para atender às demandas desse projeto.
Em 2004 foram contratados profissionais com conhecimentos específicos em tecnologia de alimentos, pois foi decidido pelo comitê gestor que o beneficiamento das castanhas de caju deveria ocorrer segundo as normas da vigilância sanitária e os conceitos das Boas Práticas de Fabricação – BPF, para competir com segurança no mercado nacional e internacional.
Foi então que surgiu a Copacaju, cooperativa com estrutura física própria e capacidade de classificar, agregar valor, embalar, armazenar e comercializar toda a produção oriunda das minifábricas integrantes do projeto.
Hoje, como principal fornecedor de castanha do caju no Brasil, o Ceará é um exemplo para os demais estados produtores desse item tão brasileiro. É, também, referência quando o assunto é cooperativismo e trabalho coletivo em busca do desenvolvimento social sustentável para os brasileiros que vivem no campo.